terça-feira, 24 de novembro de 2009

Num Piscar de Olhos

Depois de todos esses anos eu ainda me surpreendo como o tempo é relativo. Sozinha eu sentia o tempo se arrastar a cada dia e hoje uma semana não passou de um piscar de olhos.
Todos os dias vamos para a casa dele e todas as noites saímos para aprender, cada dia mais ele se desenvolve, se torna mais forte e mais confiante. Sei que não podemos fazer isso por muito mais tempo precisamos de um lugar mais seguro. Mas por enquanto, isso é o mais próximo ao paraíso que eu já experimentei.

Levei Deo para caçar pela primeira vez ele se saiu bem. Dessa vez não matamos ninguém, afinal, eu odiaria que chamássemos atenção desnecessária. Mas nada pode superar a luz no seu olhar ao aprender mais sobre si mesmo, sobre suas habilidades.
Eu vivo uma semi vida, mas é diferente de se sentir vazia por dentro, morta. Hoje não me sinto mais assim, como se ele pudesse ver dentro dos meus olhos e encontrar algum alento aqui, em mim.

Nem eu sei o que ele consegue ver, tinha me acostumado em não sentir nada, mas agora? Não sei como era possível que eu tivesse me mesclado tanto com a escuridão. Tenho medo de não conseguir mais me separar dela. Queria ser alguém melhor para o Deo, para mim. Hoje penso em futuro e não mais viver cada dia apenas.

Com ele eu sou capaz de qualquer coisa, de superar qualquer adversidade, e no entanto tenho medo. Não da noite, nem tanto da escuridão em mim, mas hoje, o que eu tenho mais medo é de perdê-lo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

In a Strange Land

Engraçado ninguém ter me encontrado naquele confessionário. Ouso dizer que esta terra e este tempo não são de devotos. Ainda bem. Após um dia um tanto quanto desconfortável, saio deste templo, ainda confusa com as lembranças da noite passada. Quem eram aqueles dois? Por que chamei o rapaz (era Deo o nome dele?) de irmão? Por que o momento do primeiro beijo dele foi tão importante para mim?

Com milhares de questionamentos, resolvo procurar um novo abrigo, este confessionário não foi a melhor das minhas ideias. Olho para os dois lados da rua, olho para mim. Ridícula! As pessoas a minha volta se vestem de maneira tão diferente.. Será que invadi uma loja de fantasias? Ok. Mission number one: Find clothes. Pelo menos uns panos, poderia passar alguns dias fazendo novos trapos para vestir, esses humanos parecem muito à l'aise e não será difícil fazer algo que pareça com o que essas meninas vestem. Vai levar mais tempo para me acostumar a vesti-las. Não, melhor não. Farei estilo. Mesmo assim... o que eu queria mesmo? Ah sim, roupas.

Enquanto divago sobre tecidos e agulhas, acabo cruzando uma avenida movimentada. Por que vim para o claro? Claro demais, rápido demais, cores demais. Começo a sentir saudades de Londres. Cartazes como o que me deparei quando abri os olhos neste lugar (e neste século) estão por todos os lados, com mensagens confusas e repletas de pontos de exclamação e produtos dos quais nunca ouvi falar. Muitas pessoas caminham carregando um tipo de aparelho pequeno no ouvido, falando sozinhas. Muitas portas de vidro, muitas linhas retas misturadas à arquitetura mais antiga, um tanto mais familiar para meus padrões. As pessoas esbarram em mim, nem olham para trás. São tantas...

Busco desesperadamente um beco, algo que me esconda desses bárbaros. Sento-me numa espécie de caixa, tentando incorporar as novidades dessa época. Não que tenha pensado que as coisas parariam de evoluir, mas não intentava passar tanto tempo desacordada. À minha frente cruza um bêbado. Ainda tenho o gosto plúmbeo de minha última vítima, mas infelizmente ele estava sóbrio. O sangue deste rapazote imberbe emana opiáceos e álcool, não vou resistir. Um pouco de alucinação me fará bem...

_ Minhas mui sinceras desculpas – digo, olhando em seus inocentes olhos azuis – você sabe me dizer que dia é hoje?

Ele ri de mim. Alto. Mas responde.
_ Hoje é dia quatro de junho, dona, 2009, quinta-feira. Tá perdida é?

Sua risada desdenhosa ecoa pelas paredes desta rua estreita e sua falta de respeito me irrita. Menos mal, é mais fácil quando não gosto deles. Me aproximo, mimetizando um esgar de desejo e balbucio algumas palavras que o deixam rubro de vergonha. Não levarei muito tempo...



Enquanto saboreio o chumbo e os preparados sintéticos naquele sangue alucinado, o rapaz, ainda tonto, fixa seus olhos vazios no sangue em meus lábios. Num momento, não estou mais lá, e não passo de uma nuvem, o alucinógeno fazendo efeito. Parecem os opiáceos de minha querida Londres, tão suja, tão escura, tão perfeita para aqueles de minha espécie. Aqueles de minha espécie... Por onde andarão aqueles dois?

Enfim, divago, mais uma vez. O que preciso fazer mesmo? Ah! Sim! Roupas! Ah, deixe. Fico com essas por enquanto. Um abrigo agora...



Sinto que não estou no meu juízo normal, mas não há ninguém para notar isto nesta cidade limpa demais, povoada demais... vou cambaleando pelas ruas, as cores brilhando muito, os vapores do mar aumentando esta sensação de delírio.

Sem motivo aparente, sinto olhos dourados e faiscantes a me observar... Um arrepio percorre minha espinha, o terror congela meus passos. Quase inconscientemente envio um alerta àquele meu semelhante... Fecho os olhos e espero uma mensagem de meu maldito mestre, mas ela não vem. Parece que me enganei...

Ao abrir os olhos, me deparo com o abrigo perfeito. Um prédio coberto por folhas de madeira, com aparência abandonada. O terror me impele a me esconder rápido, num instinto bem próprio do animal que me tornei. Mexo em meu vestido, como se limpá-lo fizesse o pânico se esvair e descongelar meu sangue, ou mesmo conseguisse organizar minhas ideias num fluxo mais ou menos coerente. Sem sucesso. Deito. Preciso recuperar minhas forças, e um pouco de sobriedade.



Passo alguns dias assustada, semi-oculta nesta cidade estranha. Minhas saídas se resumiram a pequenos furtos em armazéns de tecidos e calçados, para que pudesse me adequar a um passeio mais longo. Ainda desconfortável com os modelos usados por esta geração, desenho um novo vestido longo e um costume, ambos num tecido negro e, suponho, discreto.

O vestido, em um estilo full dress de tea parties do início do século XIX. O costume faço em duas peças, com uma camisa simples, sem botões. Uma roupa masculina ainda pode me ser útil. O labor me distrai e aos poucos me vejo na Vila de Santos, aos pés de minha mãe... Afasto o pensamento com um movimento de cabeça.

A imagem desvanece e é substituída por um beijo da morte. Uma menina semi-nua, um rapaz assustado e uma bela e fria mulata. A cena me atinge de chofre, e a frase que proferi retumba incessantemente. “somos irmãos, somos irmãos...” Que será que aquilo significa? Me pareceu natural... Fecho os olhos e chamo novamente aquele sangue familiar. Preciso encontrá-los.



Sem resposta, aguardo mais uma noite e me dirijo àquele estranho simulacro de pub irlandês, subo na árvore da balaustrada, os cabelos soltos e os olhos fixos na lua.. Sinto que vou perder a consciência...e eles devem chegar logo.

sábado, 24 de outubro de 2009

Entre os braços a reposta.

Fico olhando pra Carol, imaginando há quanto tempo ela está nessa vida, uma criatura tão sedutora, tão linda e poderosa, como será que se tornou uma?... ainda não consigo expressar essa palavra, coisa que fazia com extrema facilidade, até gostava, e agora que me vejo nessa vida...não vida... apenas tento controlar meu desespero.

Olho pela janela fechada, instintivamente percebo que ainda há sol lá fora, volto meus pensamentos para dento do quarto, como será essa noite? quanto tempo agüentarei sem ter que atacar alguém?, hoje, ao escurecer, será diferente, pois sei o que sou, sei a que mundo pertenço agora, o crepúsculo se torna meu amigo, a partir de hoje ele se torna meu mensageiro, mas será que ainda poderei contemplar sua beleza, ou até mesmo o mais fino e belo dos raios solares poderá me fazer mal ?, tenho tantas dúvidas, e as respostas pra todas elas está aqui em meus braços, dormindo, o que aparenta ser, ironicamente, o sono dos anjos.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

The Dawn

Afastei-me daquela cena com as lembanças afloradas. Como é sedutor o primeiro beijo da morte. Vi nos olhos do garoto o que meu mestre deve ter visto nos meus. Lembrei-me subitamente daqueles olhos dourados e mordazes e o pânico ameaçou se instalar. E agora, para onde vou?


Vejo que a madrugada chega ao fim, e preciso de um abrigo. No auge de minha desorientação, em algum momento entre o momento que descobri que estou em 2009 (isso é um tanto surreal ainda) e aquele em que vi a placa de letras douradas, esqueci-me de onde sai. Merde!


A aurora sempre parece vir mais rápido quando não temos abrigo. Lembro os primeiros dias, atarantada a correr de mãos dadas, por ter perdido a hora...mas divago. Não quero lembrar-me daquela influência..


Mas esse caminhar solitário é propício demais para reflexões. Merde à nouveau! Olho para minhas roupas e as comparo com os parcos piétons que ainda cruzam as ruas, e me sinto ridícula. Tenho que buscar outras lojas, mas o que abre nesse inferno à noite?


Começo a prestar atenção nas ruas, atoladas de algo que lembra vagamente os automobiles, mas de cores e formatos que nem Wells, nem mesmo Jules Verne teriam imaginado. E ainda nada de um abrigo. Ah! Ali! Uma igreja de construção dos meus tempos de menina. As igrejas ainda mantém as portas abertas... vai ter de servir... Procuro o confessionário (protegido da luz dos vitrais). Vai ter de servir...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A manhã

O céu está começando a clarear. Esse azul claro já me assustou tantas vezes! Mas hoje é diferente, estou tranqüila como há muito tempo não experimentava. Nossa, que noite!

Chegar numa cidade desconhecida é sempre uma aventura, mas se ver nos olhos de outra pessoa é raro. E nem entendo direito o que aconteceu, só sei que encontrei o Deo.

Um neófito, que nem sabia se alimentar, um homem perdido numa nova vida. Ver a inocência em seu olhar morto me fez baixar a guarda, E me fez baixar a máscara que coloquei para me proteger.

Ele me deu um pouco de sua inocência e eu dei a ele a mácula da nossa maldição, o ensinei a saciar a sede. E não me arrependo.

Desde que morri sonho em encontrar um companheiro para dividir a pós-vida. Alguém como ele, que se pode confiar.

Nada dura para sempre, isso aprendi nos meus longos anos de vida. Mas certos momentos são eternos, como esse agora, que estou deitada em seus braços. Ele me trouxe pra sua casa e me ninou.

Venha manhã, venha que não me assusto mais.

sábado, 12 de setembro de 2009

Uma frase...

Ainda sentia aquele novo sangue fluir pelo meu corpo, um novo corpo, aquele gosto ficou impregnado em minha matéria, não sabia mais direito o que eu era, mesmo sabendo o que havia me tornado. As imagens vêm e vão a todo, o corpo desfalecido, a sede enfim saciada, o banho de sangue, o abraço.....

Não sei como a Carol conseguiu, mas em pouco tempo já estávamos do outro lado, sem que ninguém tivesse realmente reparado em nós, mas naquele momento isso era o que menos me importava, minha cabeça doía com aquele turbilhão de informações e sensações. Eu estava em uma nova vida, sabia que tinha acabado de nascer, e como um recém nascido segurava forte a mão da Carol, ela era meu único ponto de ligação com isso tudo, mesmo não havendo ligação nenhuma com minha vida anterior. O que mais me assustou nisso tudo foi a visão que tive naquele momento, havia mais alguém ali, quem era eu não sei, mas um nome e uma frase, de forma sombria, ecoava em meus ouvidos....



“Sou Victoria. Somos irmãos”

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lust and Blood...

Sigo o som das risadas, e vejo três silhuetas emaranhadas contra a parede do forte. Vejo as duas meninas que trocam carícias ousadas para deleite do rapaz, cujos olhos faíscam de desejo, e fome. Ao longe não se pode distinguir o começo de uma criatura do fim da outra.

Me aproximo cautelosamente, atraída pela voluptuosidade da paixão que as duas criaturas da noite despertam nesta pobre e embriagada mortal. Posso sentir o cheiro do álcool em seu sangue, e o odor característico de seu sexo em chamas. As bocas que se unem em beijos desesperados, as mãos geladas que percorrem aquele corpo quente, sinto cada toque em minha pele inumana...mordo delicadamente os lábios numa vã tentativa de me recompor...

Ouço algumas palavras sussurradas e muitos gemidos, enquanto a mortal se entrega à lascívia do beijo da morte. Vejo seu rosto moreno e de traços graciosos lentamente perdendo a cor, os olhos negros se tornarem opacos, enquanto sua vitae vermelho-rubi alimenta os apetites das bestas que habitam aqueles belos e pálidos invólucros.

Mais um passo e estaria próxima demais. Vejo o brilho negro do sangue que cobre Deo (será esse seu nome?), o esgar de satisfação que lhe lança a sua mentora, a languidez mórbida do cadáver sob seus pés...Dou as costas, não devo...

Um arrepio percorre minha espinha quando ouço uma voz...em minha mente: “Quem é você?” a voz me pergunta enquanto sinto dois olhos a me encarar, mas não tenho coragem de olhar para trás.

Respondo em silêncio: “Sou Victoria. Somos irmãos” enquanto sumo de vista...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Não mais sozinha...

Quando Deo começou a sugar a moça eu aproveitei bem pouco e me afastei. Ele se lambuzava com o sangue, totalmente em frenesi. E vê-lo ali na luz da lua foi uma das coisas mais lindas que eu tinha presenciado desde a minha morte.

Um lágrima vermelha desceu pela minha face e eu sabia que não estava mais sozinha.

Quando ele terminou e olhou pra mim eu desmontei e o abracei. Sabia como era difícil aceitar logo de cara a primeira caça.

- Calma, Deo. Estou aqui e vai ficar tudo bem. Vou te ajudar, tá?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sexo, Sangue e Rock'n'Roll

Por alguns instantes não acreditei que aquilo estava acontecendo, a Carol tinha um poder de manipulação imenso, não levou muito tempo pra atrair a outra garota, cujo nome sinceramente não me lembro mais...

Após me chamar com um simples gesto de mão, que me fez tremer, seguimos em direção ao forte, passando pela rampa onde os moleques da rua pulavam no mar durante o dia....

O mar durante o dia....(suspiro)

É normal casais irem namorar nos fundos do forte, casais antigos, casais recém formados, trio recém formado. Naquele momento senti uma coisa única, confesso nunca ter tido tanto tesão em minha vida, ver aquelas duas se beijando, a menina sem nome estava totalmente a mercê dos movimentos da Carol, parecia que ela dançava em sua mão...

Com um olhar lançado de forma furtiva percebi que essa era minha deixa, lembro apenas do começo, das mãos subindo e descendo, da minha blusa sendo jogada no chão, excitação sem controle, pensamentos confusos...

Fiquei fora de mim por alguns instantes eternos até sentir um gozo diferente de tudo o que já havia vivido, estava gozando, estava me sentindo bem, estava me sentindo mais forte... estava com sangue em minha boca.... e não mais sentia sede....

Lembro de um desespero e um alívio percorrer meu corpo inteiro, lembro da Carol me olhando, enquanto eu estava com a boca, pescoço e peito sujo de sangue ela tinha apenas uma leve gota, e pude então sentir que não estava mais sozinho, mas aonde isso iria me levar?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A primeira vítima

Eu não me lembro da última vez que eu me diverti genuinamente com alguém. Forçando bastante a memória eu me lembro do meu mestre, a pessoa que mais amei até hoje. Deo é diferente, encantador, charmoso.

Impossível não pensar em humanidade, aquilo que nos torna bons e interessantes, algo que eu perdi, ou acho que perdi, pelo menos. Os beijos sinceros e quentes me lembram de quem eu era, de quem fui um dia, de felicidade. Eu preciso falar a verdade para ele, preciso mostrar pra ele quem realmente era.

Tive uma idéia!

Uma das fantasias que mais mexe com qualquer homem é a de ter 2 mulheres pra si. Vou usar dessa fantasia com o Deo, vou convencê-lo a se entregar ao seu instinto mais puro, talvez isso desperte sua fome.

Não acho que seja um bom exemplo de caça, mas pelo menos ele precisa se confrontar com quem ele é agora. O desejo, o tesão, sempre traz à tona nossos instintos, e o maior instinto de Deo nesse momento é o de se alimentar, tenho certeza. Quantos dias um neófito pode ficar sem
isso? Não sei ao certo, nem quantos dias ele está sem, mas uma hora a fome vai ser mais forte.

É difícil admitir, mas também sinto muito medo de perder essa conexão com ele. Não quero assustá-lo, e não quero me separar dele. Por um lado fica claro que não quero me separar por companheirismo, por querer ensiná-lo, mas não APENAS isso, eu sei.

Encontrar uma garota que os dois gostassem foi muito divertido e não demorou muito pra que eu seduzisse a menina e nós três Fôssemos até a praia. Eu me aproximei da garota e a beijei. Esperava que essa visão despertasse em Deo a vontade de se juntar ao beijo, por isso mesmo, depois desse primeiro, olhei fixamente para ele, com seu olhar de desejo e sede, e o chamei com a mão.

terça-feira, 28 de julho de 2009

A glimpse at the sea...

Começa um novo "show" e não suporto mais os ruídos desses instrumentos estranhos. A irritação se sobrepôs à curiosidade, portanto deixarei estas pobres crianças da noite a sós.

Sigo pela orla, apesar de um pouco receosa - a luz é muito próxima à do dia - e encontro uma espécie de pier, uma ponte em direção ao mar. Esse canto é escuro, e me sinto um tanto aliviada quando ali me sento, abraçando os joelhos, qual menina pequena.

Fecho os olhos e escuto o mar, um barulho tranquilizador depois da balbúrdia da turba ensandecida que povoa aquele pub... Sinto a lua ainda alta, sinal que a noite ainda está longe de terminar, e ainda sinto o gosto um tanto plúmbeo do sangue daquele marginal...


Passado algum tempo, que me pareceu uma eternidade, ouço passos e risadas meio bêbados atrás de mim...A morte de dotou de excelentes ouvidos. Ao prestar atenção ao que se passava, reconheci duas vozes.... Minhas duas crianças da noite...aqui...Oh dear!

O que será que vão aprontar???


Victoria

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uma conversa e um sussurro...

A noite ficou mais interessante com aquela conversa. No início não gostei, mas estranhamente comecei a me envolver com tudo o que ela dizia e perguntava, tinha algo diferente no seu jeito, no seu olhar, sua maneira de falar...Parecia o tempo todo estar tentando tirar algo de mim, algum tipo de confissão, mas fazia isso de um jeito só dela.

Por alguns instantes pensei em contar tudo o que estava acontecendo comigo, mas temi que com isso ela fosse embora, afinal de contas quem acreditaria em mim?, não queria vê-la partir, mas como falar que você virou um... um....deixa pra lá, seria impossível contar qualquer coisa, vou ficar calado com meus pensamentos e essa estranha sensação de estar sendo observado, parece que alguém respira em meu pescoço e sussura em meus ouvidos.

Naquele momento o que eu mais queria era sua presença, ela me trazia segurança, uma estranha segurança, não me senti apavorado perto dela, alguma coisa tinha de bom naquilo tudo, o que era eu não sabia, sinceramente não esperava que mais nada de bom acontecesse comigo por muito tempo, por isso não vou deixa escapar mais essa, tentarei me desconectar de tudo e apenas ouvir o que essa adorável estranha gostosa tem a me dizer, hmmm meus pensamentos macabros ficam imaginando como deve ser esse lindo pescoço...Putz, que merda eu pensei agora.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O que eu vi...

O tempo todo que fiquei dançando no show não foi o suficiente para trazer o rapaz à Terra. Definitivamente ele é um neófito, eu noto quando ele tenta respirar. Ele está saindo, eu o sigo. Espero o momento certo.
Agora me aproximo com meu melhor sorriso.
Olho bem nos olhos dele, me abaixo (mesmo de saia) e começo uma conversa.
Eu tenho a prova de que ele é sim um neófito! Ele ainda sente falta do SOL! Mas como é interessante... Hora de tomar uma atitude.
Aí que as coisas vão mal, ele se assusta quando tento falar do abraço. Vejo na aura dele uma coloração de medo e entendo finalmente. Ele tinha sido abandonado! Terá sorte de saber o que é essa sede que o consome. Eu não sabia que existiam mestres tão cruéis a ponto de fazer uma coisa dessa.
Então um sentimento estranho invadiu o meu corpo. Pela primeira vez em muitos anos me esqueci de minhas próprias ambições e problemas e olhei fundo nos olhos do garoto.
Sabia que precisava ir mais devagar e falar as coisas com calma. Sim, eu sabia, e usarei meus poderes para acalmá-lo, assim fica mais fácil.
Tento partir pra outros assuntos então, conversas pequenas de seres humanos. Pronto, parece funcionar, ele está mais calmo.
Por alguns instantes eu não sei o que fazer, nem tenho uma piadinha, nem tirada sarcástica. Sei que ele precisa ser ensinado, ou não vai conseguir se virar sozinho. Mas como falar com ele sem o assustar? Essa conversa pode se estender até quando?
Enquanto falamos eu olho em volta. Um pouco por medo de ter alguém olhando, e um pouco por sentir uma presença nos seguindo. Dentro do bar tinha muita gente, agora, com os sentidos aguçados eu consigo saber que tem alguém por perto, mas não consigo ver quem...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Strangers in the night

Passo um bom tempo visível, mas, afora um desaforado ter me abordado, nenhuma reação das crianças da noite. Percebe-se que estão mutuamente mesmerizados...

Logo a irritação com os barulhos destes instrumentos esquisitos (alguns parecem guitars) supera a curiosidade por essa dupla, e me refugio num canto mais escuro da balaustrada. Há poucas pessoas por aqui... um ou dois casais, que se devoram a plena vista, alguns fumantes... mais nada.

Não muito tempo depois, aparece o rapaz da camisa vermelha... Ele ainda é tão humano, acendendo um cigarro artesanal... Oh God, so naïve... quase me lembro dos meus primeiros dias na Europa..Engraçado... ele está sozinho...

Logo chega a garota, os olhos dele brilham de desejo... Neste canto, semi-oculta pelas sombras, escuto suas palavras...Isso vai ser interessante...

Ela se aproxima num arremedo de sensualidade, e aborda:

- Linda noite, não?


Com os olhos arregalados, ainda brilhantes, ouço pela primeira vez a voz hesitante do rapazote:

- Hã! é, a noite está bonita, aqui sempre é bonito assim, você precisa ver durante o dia

as últimas palavras saem num suspiro, o olhar agora perdido no mar, que em minha opinião está refletindo luzes demais...A menina, numa total falta de tato, pergunta:

- Então você ainda sente falta do sol, né? Faz quanto tempo que você foi abraçado? – e se senta ao lado do rapaz.


- Quem é vc? Do que está falando?


- Ah, me desculpe! Meu nome é Carol - Ela estende a mão na direção do meninote, numa saudação que me pareceu muito masculina - Esqueci de me apresentar. É que eu sou nova em Salvador. Desculpe falar daquele jeito, sabe como é, não? Uma pessoa perdida longe da sua cidade natal. Qual é o seu nome mesmo?.

Ela sorri, percebendo sua falta de tato, tentando recuperar o poder que exercera na pista de dança....

- Meu nome é Deo, você disse perdida né? Sei mais ou menos como é isso, de onde veio?


- Eu? sou do interior do Brasil, um estado chamado Mato Grosso do Sul. Já ouviu falar?

Eu nunca ouvi falar desse estado... o que mais mudou nesse tempo todo??? Ele responde, já mais à l’aise


- Já sim, tinha um tio que morava por lá, mas não sei se era do sul ou do norte, quer dizer, acho que só existe do sul né!? Você está gostando de Salvador? não acho que a cidade tenha muito sua cara, lugares como este aqui são poucos sabia? é difícil

Outro suspiro... Entendo o teor da conversa, mas não conheço nenhuma dessas street words...nem os pronomes de tratamento. O português se deteriorou tanto assim? Deve ter, afinal todas as outras línguas que conheci se deterioraram, ou evoluíram...Paro de divagar e continuo a prestar atenção à conversa... Ela deve procurar uma maneira de se revelar sem assustá-lo...

- Eu sei bem como é depender da noite... Mas existem muitas coisas pra se fazer além do que os olhos podem ver. Podemos nos divertir alem dos bares, além da música. (Música, penso com meus botões, hunf!)

- Hmmmm, além dos bares, da música? acho meio difícil, muita coisa aqui nessa cidade é superficial demais, na verdade me sinto estranho aqui, a cidade não combina comigo, antigamente talvez sim, mas hoje em dia tenho certeza que não, está gostando daqui? acho que sua vida deve ser bem agitada não? por aqui vai ter que ficar mais quieta um pouco, falo sério, mas se quiser posso de ajudar a rodar a cidade.


Poor lad!! Tão intimidado que se repete...

- Deo, muitas relações são superficiais, a maioria delas pelo menos. E as cidades são feitas de pessoas, dificilmente você vai encontrar coisas diferentes só por que está em lugares diferentes. E, bom, por que você acha que minha vida é agitada? Pareço alguém muito agitada? .... Só uma coisa que eu não entendi, por que você diz antigamente? Quando você era criança ou algo assim?

Ela sorri, seu sorriso é muito belo... e essa menina me parece inteligente... Com conhecimento de causa ou não, ela definiu os mais de 100 anos que vaguei pelo mundo... Os homens não mudam...
Me envolvi tão completamente com a conversa que ela sentiu minha presença. Bollocks!!! Será que é o momento de me apresentar??

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Procuro respostas que não tenho.

Termina a primeira banda e, como de costume, saio e vou pra
balaustrada. Sento na parte que fica atrás de uma árvore, e fico
olhando a rua, as pessoas, volto pro meu ritual, enrolar, acender e
explodir... uma variedade imensa de pensamentos, mas todos com o mesmo
tema, como pode isso ter acontecido comigo?

Por mais que acreditasse, nunca achei que fosse possível. Aos poucos
estou me afastando mais e mais de todos... sei que sempre gostei dos
meus momentos de reclusão, mas agora não o faço apenas por vontade,
está começando a ser por necessidade também, onde posso encontrar as
repostas que procuro?,

Com certeza não será em um livro do Vianco...Ai!, merda! queimei o
dedo! estou tão absorto em pensamentos que esqueci, caramba! Tento
controlar essa agonia que estou sentindo, mas juro que está cada vez
mais difícil, sinto um certo desespero às vezes, não sei como lidar
com isso, está tudo tão estranho que não consigo sequer olhar para as
meninas direito, estou assustado comigo mesmo, acho que o mais correto
agora era.... Hã?! Ela vem em minha direção mesmo?!, a garota mais
gostosa do show, nossa!, penso em sair dalí o mais rápido possível,
mas estranhamente fico sentado esperando ela chegar...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

In that pub...

Paro e presto atenção na placa com letras douradas desta Public House - “The Dubliners” - e me lembro das Beer Houses que conheci na Irlanda. Deve ser isso que me chama para esse lugar... será?

Olho ao redor, e noto com espanto que nem todos os humanos usam roupas coloridas. À porta, uma pequena fila, e vejo que as pessoas trocam papéis para entrar. Provavelmente estes papéis coloridos e retangulares sejam o papel moeda dessa região. Bollocks! A entrada é paga. Terei de ser mais sutil.

Aguardo a fila diminuir um pouco e, quando a oportunidade aparece, entro sem ser notada. Uma vez dentro, vou ao balcão e peço um copo com gelo, afinal humanos tendem a se descontrair quando possuímos um copo na mão,... e procuro uma mesa num canto onde possa observar seus novos modos. Eles provavelmente não me vêem neste canto mais escuro...mas eu os vejo...

Logo ouço sons esquisitos. Alguém grita “O Show começou!!!” e começa a balbúrdia.. Olho para o tablado e vejo pessoas carregando o que parecem instrumentos, mas que desconheço, muitos deles ligados com fios a umas caixas esquisitas. ISSO é o que eles chamam de música??? A new world indeed!

Ainda intrigada com o barulho no local, algo chama minha atenção... Duas auras se destacam nesse lugar. São...são dois vampiros!!! DOIS??? Um deles bebe de uma pequena garrafa o que parece ser ale... deve ser neófito, ainda tolera bebidas em seu organismo... Logo perceberá que essas substâncias só farão efeito quando misturadas com sangue. A menina... é, parece ter um pouco mais de experiência,.. e parece ter esquecido as saias em casa...Mesmo nesse ambiente de permissividade ela parece se destacar pela ousadia.

Passo a olhá-los com certa curiosidade... O rapaz literalmente baba pela moça, seu olhar se perde em seus seios e suas pernas completamente à mostra. Ela se delicia com isso, é notável. Ele usa vermelho, e sua camisa possui o número 13 e o nome “Deo” escrito nas costas. Ela está de preto, com um corpete parecido com o que eu usava em meus tempos de menina, botas , várias correntes de prata em volta da cintura... Saiu com o intuito de provocar, tenho certeza... talvez caçar...

No entanto algo me intriga em relação ao rapaz... ele parece estranhamente familiar...quase como se seu sangue me chamasse...

Acho que vou me mostrar para esses neófitos..será que me reconhecerão como um dos seus? Ah! Vale o risco...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Outro...

Esse bar é bem legal, mas os homens aqui dentro ainda não me fizeram tremer. São humanos normais, todos sem graça! Como eu estou cansada de pessoas normais. Eu queria muito encontrar outro como eu.

Alguém que eu pudesse conversar de verdade. Claro que sugar sangue, me apaixonar e matar é bom e excitante, mas depois de um tempo fazendo isso é vazio.

O vocalista dessa banda parece ser bem interessante, talvez ele dê uma boa diversão.

E quando eu acho que já tinha encontrado meu alvo, um rapaz esbarra em mim. Nossos olhos se cruzam por um segundo, pois os dele logo descem para meus seios. Homens...

Mas, espera.

Ele não é um humano normal.

Essa aura pálida não enganaria um cego!

Fora o meu mestre, ele é o primeiro vampiro que eu encontro, e como é bonito!

Pela primeira vez em muitos anos eu estou reticente. Como abordá-lo?
Será que ele notou o que eu sou? Será que ele está caçando?

Preciso falar com ele! Mas calma! Acalme-se primeiro. O show começou!
Eu vou me aproximar e dançar ao seu lado. Dançar do jeito que eu sei fazer de melhor, sensual. Afinal, olhando bem, ele parece estar bebendo uma cerveja. Deve ser um neófito!

Vamos ver quanto tempo ele demora pra entender que eu sou como ele.

Como eu adoro esse jogo. Isso vai ser muito divertido!

Meu começo

Acordei por volta das 18:30, graças a um emprego falso, que inventei, só chegava em casa no fim da madrugada, o que me dava o “direito” de passar o dia inteiro dormindo. Sempre soube que não teria como fazer isso pra sempre, mas no momento era tudo o que eu podia fazer.

Começo a me vestir para ir ao pub que fica lá na Barra, bermuda preta, all-star vermelho, camisa número II da seleção alemã com o número 13 nas costas, no fundo meu nome, camisa personalizada, sempre gostei disso, nunca quis ser igual a todos...e agora já não sou...

No caminho que leva até a Barra vou com o pensamento longe, agora tudo é novo, vida nova, a maior angústia de todas é não ter com quem conversar, com quem aprender, sinto tanto a falta de carinho e sinceramente já não sei se ainda terei isso, quem se arriscaria a se meter com um cara que ainda nem sabe o que realmente é?

Desço do ônibus e vou até a balaustrada que fica em frente ao Dubliners, o movimento hoje está legal, o clima por aqui é mais denso, bem menos pop, trato, enrolo, acendo e caio em pensamentos que me levam aos mais diversos mundos, na grande maioria todos estão vestidos de preto, vejo muitos dentes pontiagudos e sinto um estranho prazer misturado com medo, procuro minha garrafinha de cachaça, no melhor estilo whisky, sinto uma sede estranha, por mais que eu beba água, cerveja ou sei lá o que essa vontade não passa; escuto o barulho da guitarra, o som vai começar, hora de pagar pau e tentar entrar de graça, tem que ter algum conhecido por aí, fiquei rondando a portaria até que vi a Maíra, amiga de longa data:

- Oi Mai, olha só, você tem como me botar pra dentro?

- Só falando com Pedro Léo, ele vai subir agora pra tocar, acho que não rola de graça não, mas qualquer coisa você paga meia.

- Já é uma, pelo menos sobra cinco pila a mais.

Momentos depois escuto alguém me chamando pelas gretas da janela que ventilam o lugar, é a Maíra com meu ingresso na mão, pago e deixo pra pegar o troco lá dentro, assim não ficamos dando bandeira, essa meia só no bode, só na irmandade, entro e vou de encontro ao bar, pego uma longneck, esbarro sem querer em uma garota com um visual tentador, peço desculpa sem olhar nos olhos, fico com vergonha e saio pra encontrar a galera na mesa de sinuca, durante a noite sempre tenho a sensação de estar sendo obeservado...

O show começou!

domingo, 7 de junho de 2009

The Dubliners

Salvador – 3/06/2009
Quarta-feira

Adoro certas coisas dos nossos dias. Como o avião, por exemplo.

Se antes eu tivesse que viajar para um lugar, com apenas uma noite para percorrer esse caminho eu nunca conseguiria chegar até aqui.

Mas, porquê essa cidade?

Eu não poderia viver em uma cidade pequena, logo teria que ser uma capital. Também não tinha vontade de ir para o Rio de Janeiro ou São Paulo. Talvez essas cidades fossem mais fáceis de se esconder, ou mesmo teriam mais opções de caça. Mas a verdade é que eu gosto muito de atenção. Como eu poderia fazer isso em uma cidade de um tamanho muito grande?

Gosto de ser vista, admirada e principalmente de se destacar. Por isso achei que Salvador estava de bom tamanho.

Encontrar um lugar também não é muito difícil, me alimentar também não. Os homens aqui parecem ter um fogo eterno, sempre procuram companhia. E eu me valho disso, mas nenhum ainda chamou a minha atenção de verdade. E agradeço por não ter que matar todas as vezes em que me alimento. Apesar de ser delicioso sugar até a última gota de sangue e sentir a pessoa desfalecer em seus braços.

Decidi que vou explorar a noite hoje, sair um pouco. E tentar me divertir.

Descobri um lugar próximo do hotel em que eu me hospedei chamado The Dubliners, tem uma fachada verde e dois trevos dourados. Parece ser um lugar divertido e eu gosto muito de musica ao vivo. Bandas, pessoas, barulho, isso sim me anima.

Cheguei lá por onze horas e o lugar estava parcialmente cheio ainda. Uma banda muito boa estava tocando e a musica me animou. Fiquei no bar, de maneira que pudesse olhar para a porta e notar caso alguém interessante entrasse.

Que surpresas essa noite me traria?

sábado, 6 de junho de 2009

Saindo numa cidade estranha...

Salvador, 2009

Não tive coragem de me servir daqueles dois... pareciam muito felizes...demais para meu gosto.

Escolho as vielas mais escuras, não consigo me acostumar com toda essa luminosidade da noite deste lugar. Ademais, é mais fácil parecer humana no escuro... segundo a placa que vi há pouco, estou em Salvador, e o ano é 2009. Ainda não sei se acredito nisso...

Ando a esmo, sinto o cheiro fétido da urina humana, e um cheiro revigorante de maresia ao longe... Esquanto avisto os passantes, imagino meu ridículo... Preciso de roupas desta época...Espero que as mulheres ainda usem saias...

Por enquanto vou me escondendo entre as sombras, o truque é fácil depois de um tempo... afinal, os pobres mortais vêem só o que lhes apetece... e não acho que um monstro como eu seja uma visão aprazível...

Ah! Merde! Me viram... que faço? Que faço? Hmmmmm sangue fresco... Deixe que me abordem... só facilita as coisas pra mim....

São dois... sujeitos mal encarados, mas espantosamente limpos... têm uma espécie de canivete nas mãos...Hahaha, um pouco de diversão enfim!!!

_ E aí dona? Andando sozinha no meio da noite – diz o mais baixinho dos dois – têm medo de morrê não? Vejo o brilho do aço, aliás de segunda, brilhar contra a luz alaranjada dos postes ao longe...O segundo homem, moreno e até bonito, só me olha... meio interessado, meio excitado...Poor lads..

_Medo de morrer? Eu? Tive, uma vez.... A morte é mais fácil do que parece, que tal saboreá-la?

Sinto o medo e a perplexidade nos olhos escuros do mulato enquanto o corpo de seu amigo perde a cor... Estou quase saciada...Vejo que o rapaz tenta fugir, mas não consegue desgrudar os olhos do sangue que escorre de minha boca...Como eu disse, diversão pura... Deixarei que viva, logo a loucura o consumirá.....

Limpo o sangue dos lábios e sigo em frente. Agora, saciada, será mais fácil a ofuscação...

Onde estava mesmo? Ah sim... preciso de roupas novas....mas não esses trapos curtos demais...Solto os cabelos, tiro a jaqueta (pelo que vi, aqui é um lugar de calor...no mais, o frenesi fez com que me sujasse), logo à frente há o que o cartaz acima diz ser uma Boutique... Terá de servir...

Me imagino aos olhos das outras pessoas... Os cabelos negros, muito longos e um tanto rebeldes... a pele pálida, os olhos de um tom de amêndoa, um pouco grandes demais...Várias camadas de roupas num lugar onde me parece que o verão é eterno... Busco entre os cabides brilhantes algo que pareça discreto, talvez este vestido... é....pode ser...

Sem notar me encontro à frente de um tipo de pub, seja lá como eles chamam este tipo de lugar hoje em dia... uma voz aqui dentro me diz para entrar... Entre os murmúrios das pessoas eu ouço algo sobre Sombra Sonora... poético...

Victoria

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Relatos de um Vampiro Juvenil

02/06/2009

A partir de hoje vou tentar escrever, pra nunca mais ter que lembrar.

Já se passam mais de 24 horas depois que tudo aconteceu, ainda não sei ao certo o que me aconteceu, na verdade acho que sei, mas quem iria acreditar quando eu mesmo não acredito... não aceito.

Queria entender como é que acontece, sempre gostei das histórias, mas eram estórias como dizem por aí, com E e não com H, mas estórias não existem, nem a palavra com essa letra E, sinto o corpo frio, gostaria de um abraço, mas até o que sinto parece diferente; meu pai já está dormindo, ouço pelo ronco, vou aproveitar e ir pra varanda, fumar um cigarro, olhar o céu e as estrelas, o azul escuro da noite é muito bonito, pelo menos isso ficou melhor, curtir e aproveitar a noite... mas apenas ela a partir de agora. Paro na sacada, as redes de proteção não me deixam olhar pra baixo direito, então olho pra cima, e vejo aquele maldito morcego de novo, maior do que o normal, consigo enxergar aqueles malditos olhos vermelhos, ou serão dourados?, morcego com olho dourado? devo estar ficando louco mesmo, acendo outro cigarro e um incenso, até meu pai chegar caso ele acorde já apaguei o beck, abro uma latinha, bem gelada!, como isso me faz feliz, hoje estou sentindo uma sede fora do comum, será que tem alguma coisa haver?, fico pensando enquanto vejo a lata suar, o tempo está quente, dou outro gole pra evitar que fique ruim de beber, vejo o terraço do prédio azul que fica a esquerda do meu que é vermelho, vermelho... que nem sangue, outro gole e mais um trago, olho para o meu sofá-cama, pequeno e velho, dói as costas, mas hoje acordei melhor, sem dor, penso em ir deitar, mas não tenho certeza, vou beber o último gole que resta e tentar dormir, pelo menos penso nisso, na verdade nem sei ao certo o que penso, acaba a cerveja e fico escrevendo, palavras sem destino, sem uma razão aparente, paro e vou escovar os dentes, volto para varanda miro as estrelas, vejo a cidade, o horizonte cheio de luzes a minha frente, penso de novo em ir dormir, só que aquele morcego voando me tira o sono, me deixa inquieto, na verdade me sinto tão só, descobrir um mundo novo sozinho é ruim, muito ruim, não sei o que me espera, não sei se vou viver por muito tempo... viver, será que é vida? que há vida? ouvi dizer que somos seres... que SÃO seres sem alma, eu tenho alma, ainda a sinto aqui dentro, mas meu coração parece parado, como pode um ser sem alma ter tristeza? não quero ficar sem alma, queria alguém pra poder contar tudo, vai ser estranho não sair durante o dia, meu azul claro do céu, sinto tua falta desde já, amigos... ainda os tenho? como vou fazer agora?... melhor fechar a janela por causa desse maldito morcego, tentar dormir, cuidar dessa ferida no pescoço e evitar minha vizinha que sempre aparece com algum corte pedindo curativo, pretexto dela eu acho, mas agora acho melhor manter distância, tomei uma lata toda e ainda sinto sede.

Putz, amanhã tem sombra sonora no Rio Vermelho, tomara que tenha algum broder conhecido por lá, não tô afim de pagar.

Victoria is me name

16/06/1785 – Santos

Aqui estou... a caminho do velho mundo. As últimas palavras que ouvi do meu pai foram “Tu não pertences mais a esta família”, entre outras imprecações e o choro alto de minha mãe. Juntei as jóias que usaria no casamento, comprei uma passagem na segunda classe de um navio menor. Tenho 17 anos e acabo de nascer de novo. Não pertenço mais a esse mundo. Ele disse que me acompanharia....Será que ele vem?

13/07/1789 – Paris..

É estranho morrer...A sensação de vazio e frio que se espalha pelas veias, enquanto seu sangue é substituído por algo que ainda não entendo muito bem. Sei que a sede é grande, e nunca antes tive os sentidos tão aguçados. Lá fora, burgueses preparam uma revolução. Aqui dentro começo a deixar de sentir...Não existe mais frio, calor ou doença...nem amor. Me enganei completamente...

15/09/1899 – Londres

Acho que consegui escapar... pelo menos não sinto mais seu cheiro, ou recebo suas mensagens em minha mente...Há dias não me alimento...não sei quanto vou agüentar...Acabo de entrar numa estalagem fétida e escura, e todos me olham de viés, com medo. Tenho que me lembrar de piscar, merde!. Insubordinada, foi essa a palavra...insubordinada.... tenho que fugir

22/11/1899 – Londres

Ele me achou! Posso sentir seus olhos dourados a me buscar nesta cidade... Em Whitechapel vi do que ele é capaz... e estou muito fraca... preciso me esconder... não vou agüentar muito mais....Perdi minha energia tentando parecer mais humana... e ele me encontrou...acho que não conseguirei fugir desta vez...Minha lucidez está fugindo de mim...

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Data desconhecida

Levantei-me há pouco, numa espécie de celeiro ou barraco abandonado, sombrio e empoeirado... A lua passa por entre as frestas na madeira, à exceção do lugar onde me jogaram, cuidadosamente revestido por uma espécie de cobertor de um material que desconheço. Este lugar não se parece em nada com a Londres na qual dormi...

Ainda meio tonta (parece que dormi por décadas) vou até uma das frestas e olho para o exterior...Vejo uma faixa de um cartaz, cores brilhantes inauditas, sugerindo que eu beba um certo líquido...e....está em PORTUGUÊS!!! Ou alguma língua que lembra muito o meu idioma materno... Um pouco mais à frente, um negro com uma garrafa na mão canta músicas de escravos... Estou de volta ao Brasil... exceto que... que.... esse negro está muito bem vestido e feliz para ser um escravo liberto.

Em...em que século estamos? Quanto tempo dormi? Como voltei ao Brasil?...

Será minha demência voltando? Não consigo lembrar nada desde aquela estalagem....Ei! espere!....Aquela mulher...está usando calças?

Whatever...Preciso me alimentar, preciso sair enquanto a lua ainda está ali.....Esses dois devem servir...adoro sangue alcoolizado...

Será que ainda existem aquelas casas de ópio? Hmmmm sangue tóxico... tão inebriante... Mas estou divagando... vamos Victoria (ah! This is me name), o tempo urge...

Diário da Carol

Campo Grande – 30 de Maio de 2009, à noite

Noite chuvosa na cidade morena. Aqui já nem tem tanta coisa pra fazer imagina com essa garoa e esse frio. Não que eu sinta algum frio, há muito tempo não sei o que são essas sensações térmicas.
Mas nada impede que algumas pessoas apareçam aqui na Pity, opa, já não se usa mais esse nome há quase 15 anos, eu acho. Esse lance das coisas mudarem com o tempo já está me afetando. Aqui se chama Fly agora, me lembrei. Aliás, li no banner estendido. Será que eu devo entrar?
Não deve ter mais gente lá dentro do que aqui fora, e sinceramente, nenhuma das bandas me chamou a atenção. Estou com muita fome. Preciso encontrar alguém rápido!
Homem de preferência.
Não que eu tenha algo contra as mulheres, mas elas geralmente são mais histéricas. Homens são mais bobos, meninos então nem se fala. São muito convictos, muito cheio de si para notar quando estão sendo enganados.
Essa cidade já não é mais o que era um tempo atrás, muitas pessoas estão indo embora. Estou ficando conhecida demais, muita gente me cumprimenta. Não gosto disso.
Quando eu morri achei que seria muito difícil convencer alguém de que eu estava viva, achei mesmo! Mas as pessoas no geral não ligam muito pra quem está do seu lado, e a noite é cheia de gente egocêntrica e tapada. Muitas vezes embriagados. Então vão notar o quê?
Ali. Aquele rapaz.
Alto, moreno, cabelo curto, bonito. Do jeito que eu gosto.
Eu me aproximo para comprar uma cerveja no copo de plástico. Eu sei que poderia ir até um lugar mais chique, mas pra quê? Eu gosto de rock, sempre gostei. Gosto do jeito sujo da sinuca desse lugar aqui.
Ele parece ser inteligente, está falando de vídeo-games, quadrinhos e desenhos antigos. Seu olhar para observar em volta a todo momento, olhos profundos. Assim que é bom.
Gosto de me apaixonar por todas as minhas vitimas, odeio gente medíocre. Tenho a impressão que me tornaria mediana se sugasse o sangue de alguém banal.
Não tenho mais tempo com bobagens, estou com fome. Ainda não o conheço, mas ele deve servir.
Eu me aproximo e começo a conversar sobre o assunto. Acho que com ele vai funcionar o papel de passiva-agressiva, sim. Ele gosta de ser desafiado, mas gosta que prestem atenção no que ele fala. Certo, estou conseguindo manter contato visual. Um pouco dos dons que eu aprendi e pronto, ele está sobre meu comando.
Ninguém acha ruim ver um menino e uma menina saindo juntos do meio do grupo para ficarem sozinhos, nenhuma viva alma nota. Sei bem o que fazer e onde levá-lo.
Bem perto temos várias ruas curvas e mal-iluminadas, tudo que eu preciso. Homens são assim, quando ficamos sozinhos toda a eloqüência se vai e assume o macho dominante. Beija intensamente, passa sua mão com força pelo meu corpo. Gosto de sangue assim, quente.
“Como você está fria” ele diz. Pobre ser vivo, somente agora ele foi notar tal coisa. Eu ainda digo no seu ouvido, “é o tempo”. Ele acredita.
Muitas pessoas acham que deve-se sugar alguém pelo pescoço, mas eu digo uma coisa, o melhor sangue que eu já experimentei vem de coxa. Mas deve ser sugado próximo a virilha. É uma artéria grossa, de sangue fresco.
Eu sempre me valho das preferências sexuais dos homens em geral. Poucos perguntam por quê você está tirando a sua calça e se abaixando. E muito incentivam, só para notar quando já é tarde demais. Pessoas com o sangue quente de desejo raramente sentem alguma dor nesse momento.
Pronto, me satisfiz. Não sinto mais fome. Nem estou mais paixonada. Tudo que vejo agora é um corpo sem vida. Nada de interessante ali. Até patético na verdade, com a calça abaixada, olhar fixo, boca aberta. Nenhuma palavra inteligente agora, não é?
Eu olho em volta, ninguém por perto.
Olho de longe para a entrada do bar, ninguém interessante. Tudo que eu tinha e queria nessa cidade já acabou. Está completamente esgotado. Preciso sair daqui, ver coisas novas. Não agüento mais essa cidade pequena.
Mas para onde eu vou?

Carol.