quarta-feira, 23 de setembro de 2009

The Dawn

Afastei-me daquela cena com as lembanças afloradas. Como é sedutor o primeiro beijo da morte. Vi nos olhos do garoto o que meu mestre deve ter visto nos meus. Lembrei-me subitamente daqueles olhos dourados e mordazes e o pânico ameaçou se instalar. E agora, para onde vou?


Vejo que a madrugada chega ao fim, e preciso de um abrigo. No auge de minha desorientação, em algum momento entre o momento que descobri que estou em 2009 (isso é um tanto surreal ainda) e aquele em que vi a placa de letras douradas, esqueci-me de onde sai. Merde!


A aurora sempre parece vir mais rápido quando não temos abrigo. Lembro os primeiros dias, atarantada a correr de mãos dadas, por ter perdido a hora...mas divago. Não quero lembrar-me daquela influência..


Mas esse caminhar solitário é propício demais para reflexões. Merde à nouveau! Olho para minhas roupas e as comparo com os parcos piétons que ainda cruzam as ruas, e me sinto ridícula. Tenho que buscar outras lojas, mas o que abre nesse inferno à noite?


Começo a prestar atenção nas ruas, atoladas de algo que lembra vagamente os automobiles, mas de cores e formatos que nem Wells, nem mesmo Jules Verne teriam imaginado. E ainda nada de um abrigo. Ah! Ali! Uma igreja de construção dos meus tempos de menina. As igrejas ainda mantém as portas abertas... vai ter de servir... Procuro o confessionário (protegido da luz dos vitrais). Vai ter de servir...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A manhã

O céu está começando a clarear. Esse azul claro já me assustou tantas vezes! Mas hoje é diferente, estou tranqüila como há muito tempo não experimentava. Nossa, que noite!

Chegar numa cidade desconhecida é sempre uma aventura, mas se ver nos olhos de outra pessoa é raro. E nem entendo direito o que aconteceu, só sei que encontrei o Deo.

Um neófito, que nem sabia se alimentar, um homem perdido numa nova vida. Ver a inocência em seu olhar morto me fez baixar a guarda, E me fez baixar a máscara que coloquei para me proteger.

Ele me deu um pouco de sua inocência e eu dei a ele a mácula da nossa maldição, o ensinei a saciar a sede. E não me arrependo.

Desde que morri sonho em encontrar um companheiro para dividir a pós-vida. Alguém como ele, que se pode confiar.

Nada dura para sempre, isso aprendi nos meus longos anos de vida. Mas certos momentos são eternos, como esse agora, que estou deitada em seus braços. Ele me trouxe pra sua casa e me ninou.

Venha manhã, venha que não me assusto mais.

sábado, 12 de setembro de 2009

Uma frase...

Ainda sentia aquele novo sangue fluir pelo meu corpo, um novo corpo, aquele gosto ficou impregnado em minha matéria, não sabia mais direito o que eu era, mesmo sabendo o que havia me tornado. As imagens vêm e vão a todo, o corpo desfalecido, a sede enfim saciada, o banho de sangue, o abraço.....

Não sei como a Carol conseguiu, mas em pouco tempo já estávamos do outro lado, sem que ninguém tivesse realmente reparado em nós, mas naquele momento isso era o que menos me importava, minha cabeça doía com aquele turbilhão de informações e sensações. Eu estava em uma nova vida, sabia que tinha acabado de nascer, e como um recém nascido segurava forte a mão da Carol, ela era meu único ponto de ligação com isso tudo, mesmo não havendo ligação nenhuma com minha vida anterior. O que mais me assustou nisso tudo foi a visão que tive naquele momento, havia mais alguém ali, quem era eu não sei, mas um nome e uma frase, de forma sombria, ecoava em meus ouvidos....



“Sou Victoria. Somos irmãos”